quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quem é você?

Se quiseres prender minha atenção por um bom tempo, guarde alguns mistérios sempre contigo. Deixe para mim o papel de ir descobrindo. A curiosidade é tipo aquela comida carregada de temperos. Sempre nos servimos de um pouco mais, mesmo sabendo que a sede vai piorar...

Aquela menina que corre todos os dias na redenção é assim. Ela passa indiferente, atenta aos passos que repete com um esforço constante de quem não está fazendo nada. Irritante de ver. Não importa se o relógio ali perto do monumento marque 8 ou 32 graus. Ela vai passar.

Também vai correr quando o céu se despede do dia em vermelho, ou naqueles em que a chuva transforma qualquer pisada num treino de trekking. Ela vai passar. Sempre igual. Sempre absurdamente diferente.

Tudo começou com um maldito sorriso. Um só, tímido, que ela deu ao passar pela segunda vez. Vocês podem dizer “Tá, por que não falaste com ela?”. Não falei, ponto. Não é questão de timidez, amadorismo. Simplesmente não queria falar com ela. O sorriso poderia ser a chave para uma troca de telefones, ou então, um simples gesto de simpatia pelo suor. Pelo esforço repetido para que a cada dia eu perca um pouco de mim.

Ainda hoje a cena se repete. Ela passa escondida atrás dos óculos de grau. Eu, dentro do Ipod. Ambos escolhemos nossas armaduras, pequenos mantos de invisibilidade. Quase como crianças, que ficam rindo debaixo da cama jurando que nunca serão descobertas. Passamos, sorrimos, seguimos.

O cotidiano se materializa como meu livro favorito. Não gosto de passar um dia sequer sem ler um pouco. Pessoas, prédios, árvores, vento, silêncio. Deixo a responsabilidade de desmentir minha imaginação para a única pessoa com este poder agora: a menina da redenção...

4 comentários:

  1. Estou de prova, ela sorri mesmo, mas já avisei ela que tu é casado, hoje ela nao vai sorrir! sorry

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  2. Safado da Redenção. =)

    Muito bom ler esses doces lapsos platônicos! Sério! :P

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  3. Safado da Redenção é ótimo! hehehehe!

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  4. Oi, Rodrigo. Vim aqui desmentir a sua imaginação. De fato, eu corro mesmo com neve e/ou tornado. De fato, eu estou sempre atenta aos meus passos, num esforço mecânico e repetitivo. Agora, dizer que eu me escondo atrás dos óculos é exagero. Eu só uso óculos porque preciso.

    Em compensação, adorei a imagem das crianças rindo embaixo da cama. Na minha ingenuidade, nunca pensei que alguém repararia em mim na Redenção. Afinal, ali estou despida de maquiagem, salto alto, roupas elaboradas. Eu diria que ali sim eu vou sem armadura, sem escudos. Ali eu sou autêntica. Quase a criança embaixo da cama, brincando de ser invisível.

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