domingo, 20 de março de 2011

Dia perfeito...

Algo me acordou cedo naquela manhã de domingo. Não tinha dormido tarde, mas não lembro da última vez que o relógio marcava menos de 2h para eu desistir das luzes. Era cedo, mas não estava cansado. Estava surpreso pelo perfume de café pela casa, com as cortinas filtrando o sol feito coador. Preciso de duas coisas para ter certeza de que o dia começou: a caneca colorida com o café, e a toalha jogada na cama.

Não ouvia os carros passando pela rua, e até mesmo os pássaros abandonaram as antenas para encontrar os frutos em alguma árvore por aí. Quando cheguei na cozinha, ela sorriu abraçando uma caneca em cada uma das mãos. Não conseguiria imaginar cena mais perfeita. Uma noite só se completa com o bom dia. Mas ela não falaria nada. Sabe do valor do silêncio de um abraço onde o pescoço é mais importante do que as costas.

Alcançou o café e tomou o primeiro gole.

- Bom dia...

Se virou para escolher uma música. Não demorou, pois eram as mesmas que tocavam quando fomos dormir. Ficou claro que a noite não havia terminado. Mesmo com o sol, continuávamos cúmplices da escuridão. Alguns goles depois, consegui encontrar as primeiras palavras:

- Tu estás linda...

Ela não respondeu. Sabia que eu não uso os elogios para agradecer. Não uso esperando qualquer recompensa. Arrumou o cabelo, se apoiou no balcão, e me olhou. Parecia folhear mentalmente a agenda da noite adolescente que tinha vivido. Pelo olhar, pude passear pelas lembranças dela. Não existe cumplicidade maior do que emprestar as lembranças sem esperar que sejam devolvidas.

Com as canecas vazias, ela pegou minha mão e foi para a janela. Olhava tudo, sem olhar para nada.

- Hoje, é para lá que nós vamos.
- Onde?

Se virou me puxando para perto, e me beijou.

Se afastou um pouco e perguntou: Vamos? Apontou para a máquina fotográfica, e pegou a velha toalha de praia que sempre colocávamos no carro quando não sabíamos para onde iríamos. Enchemos a térmica com água, separamos alguns CDs e fechamos a porta de casa com o melhor planejamento que um dia perfeito precisa ter: nenhum.

segunda-feira, 7 de março de 2011

de novo...

Talvez eu já tenha perdido a grande chance da minha vida. Tenha deixado a pessoa certa partir ou eu mesmo tenha partido na hora errada. Tenha fechado portas sem ter tido a coragem de pular pelas janelas. Mas, e daí? Achas que eu tenho tempo para ficar me lamentando? Sinceramente, isso não me serve.

Acho que as pessoas andam ansiosas demais. Nervosas demais. Criam o perfil de ocupadíssimas para justificar tantos erros. São capazes de deixar uma chance passar só porque estavam ocupadas demais discutindo sobre a demora da fila no supermercado. Preferem reclamar eternamente do carro quebrado antes de arriscar uma carona.

Tudo leva o tempo que precisa levar. Desde que tu te permitas estar leve. Pode ser que tu não entendas tudo na hora, mas isso não significa que não esteja certo, certo? Vai fazer mesmo tanta diferença fechares a cara e ficar reclamando do universo? Pra ti, eu diria: vá se benzer!

Penso assim: se tu arriscaste, as coisas terminaram antes do que imaginavas que deveriam, então... Vais fazer algo para mudar isso? Ok, te apoio. Não vais? Ok, te apoio. Vais ficar se lamentando? Ok, sai daqui.

Não faço parte deste time. Posso mesmo ter afastado alguma chance plena. Mas tenho a nítida convicção de que não foram as últimas. Nada me convence de que o melhor já passou. Se fosse assim, não existiriam chefs de cozinha misturando peras com roquefort só para arriscar um novo sabor. Enquanto as possibilidades existirem, existe em mim a inquietação.

Não significa que não tenho limites. Significa apenas que preciso de limites novos a cada dia. Já aprendi a lidar com os meus. Não são mais novidade. Então, o que eu preciso agora é a chance de me perder nos teus.