terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Areia e sangue

Eram 23h, as casas iluminadas pelas conversas e pelas risadas. Na pousada, alguns hóspedes que estavam ali há algum tempo foram convidados para se reunir na virada. Repetiriam todos os clichês do ano passado para reinventar o próximo. Não acredito tanto assim no poder da lentilha.

23h15 ela comenta que poderíamos ir para o Rosa, pela mesma trilha que fizemos alguns dias antes. Ok! Vamos! Bela idéia levar champanhe e taças... Logo no começo da caminhada, um pequeno tropeço, inevitável naquela escuridão, já fez meus pés sangrarem em vidro e areia. Minha sorte daquele ano finalmente se esgotara. Pelo menos não haveria lugar melhor. Emprestaria o poder de cura do sal e seguiria adiante.

A água gelada conteve o calor do sangue, e o corte parou. Na subida do morro, pela pequena trilha abraçada por arbustos e árvores que não reclamam da falta de terra, o que se ouvia é que não daria tempo, mas e daí? Chegaríamos um pouco depois, mas pelo menos longe dos pêssegos em calda. Cinco minutos para a meia noite, a praia do Rosa surge lotada, 37 músicas diferentes sendo ouvidas ao mesmo tempo, e a multidão esperando os fogos. Não para curtir as cores, mas para finalmente iluminar aqueles que até então eram apenas vultos.

Não demorou muito para que os fogos parassem, e uma catarse coletiva começasse. Acho que isso é o melhor do ano novo. Aquele breve momento onde qualquer problema desaparece. Onde o silêncio completa. Onde os desconhecidos se tornam finalmente humanos, e os abraços são gratuitos. Claro que pouco depois surge a saudade de quem tu gostarias de estar perto naquele momento. É quando a nuvem de pólvora se dissipa, e o céu cobre o mundo de estrelas.

É o momento que prova que religião não precisa de rótulo. Brilho os olhos para cima, uma reza desajeitada, torcendo para que, naquele momento, as mesmas estrelas estivessem refletidas nos teus.

Meia noite. Ano novo. Praia do Rosa.

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